Por que persistem mitos e fake news sobre os adoçantes?
A quantidade de notícias alarmantes que circulam, tanto na imprensa como nas redes sociais, a respeito de produtos alimentares que seriam nocivos ou perigosos à saúde humana é um fato extremamente preocupante.
É evidente que o tema da segurança alimentar é importante e merece pesquisa constante, mas o que mais observamos, infelizmente, são resultados de pesquisas mal interpretados sendo utilizados como fonte de informação e que podem levar ao descrédito produtos e ingredientes extensivamente estudados.
As razões dessa abordagem equivocada costumam estar ligadas à complexidade da linguagem técnica, o que gera má compreensão por quem lê; uso de dados e informações fora do contexto original; e leitura parcial das pesquisas com uma análise superficial que leva a conclusões precipitadas.
Tristemente, um grupo que tem sido vítima frequente desse descuido é o de pessoas com diabetes. Já não bastassem a complexidade e os cuidados requeridos para o obter o controle da glicemia, agora sofrem por dúvidas e medos desnecessários em relação a escolhas alimentares.
Quem tem pelo menos 40 anos de idade deve se lembrar como era receber o diagnóstico de diabetes há três décadas ou mais: equivalia à declaração de que sua vida seria completamente limitada, cara e difícil.
Nesses anos, a ciência, em especial a da nutrição, a farmacêutica e a medicina, avançaram muito e trouxeram importantes contribuições para a qualidade de vida, segurança e acessibilidade dos diabéticos a medicamentos e alimentos.
Os chamados adoçantes, tecnicamente conhecidos como edulcorantes, eram produtos mais caros, difíceis de serem encontrados e com opções limitadas. Hoje, temos uma série de versões com valores acessíveis, sabores para os diferentes paladares e encontrados em todos os mercados e drogarias. Além disso, vários adoçantes também são utilizados pela indústria no preparo de alimentos e bebidas.
Assim, os diabéticos deixam de consumir doces, refrigerantes, café adoçado e outros alimentos com açúcar em suas receitas originais somente se for da vontade deles, e não por uma imposição de saúde ou de orçamento.
Poucos conhecem a rigidez e seriedade que existe na aprovação de ingredientes e aditivos alimentares no Brasil. O órgão que regulamenta o setor no país é a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o mesmo que aprova rigorosamente a entrada e a comercialização de medicamentos. Um órgão formado por técnicos competentes e que utiliza como base o Codex Alimentarius, um programa conjunto da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) cujo objetivo é estabelecer normas internacionais na área de alimentos, incluindo diretrizes, padrões de produtos e códigos de boas práticas.
Diante desse aparato rigoroso e das evidências científicas soa no mínimo inconsequente a divulgação de certas notícias sobre os perigos de se ingerir adoçantes. Em primeiro lugar, para serem avaliados e aprovados por entidades como a Anvisa, aditivos como os edulcorantes precisam passar por testes experimentais e análises toxicológicas que investigam se a nova substância afeta o metabolismo, está relacionada ao câncer ou tem outros eventos adversos.
Uma revisão de estudos recente, publicada no respeitado The British Medical Journal, não identificou nenhum efeito maléfico à saúde com o uso de adoçantes. Da mesma forma, em 2017, o Consenso Ibero-Americano sobre Adoçantes Sem ou de Baixas Calorias, que reuniu análises de pesquisadores de vários países, concluiu que os edulcorantes “são alguns dos constituintes alimentares mais extensivamente avaliados, e a sua segurança foi revista e confirmada por organismos reguladores internacionais, incluindo a OMS, a Food and Drug Administration (FDA) e a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA)”
Resumindo, em função dos estudos realizados até o momento, não há por que ter receio do uso de adoçantes na alimentação diária, seja por uma restrição de saúde ou não. No entanto, a ciência é dinâmica e reavaliações sobre essa ou qualquer classe de substâncias serão sempre necessárias.
É tarefa dos nutricionistas e de outros profissionais da saúde, bem como da imprensa responsável, difundir conhecimentos confiáveis à luz da ciência e evitar que informações falsas ou controversas se propaguem. O custo humano e social para notícias falsas e má interpretadas relacionadas à alimentação é incalculável.
A indústria de alimentos, e mesmo alguns profissionais, ligados ou não ao setor produtivo, vêm sendo vistos como vilões por alguns movimentos, mas é graças aos esforços de ambos que os mais variados tipos de alimentos, dos naturais aos industrializados, chegam às mesas dos consumidores de todas as classes sociais e regiões do Brasil.
Cabe a cada família, a cada pessoa, escolher o leque de opções que vai equilibrar sua dieta, utilizando, ou não, determinados alimentos. O que não pode faltar à mesa de ninguém é a informação confiável e de qualidade.
Kathia Schmider é nutricionista e coordenadora Técnica da ABIAD (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres)
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