Fernando Parrillo, da Prevent Senior: “Não erramos em nenhuma decisão”
O fundador e presidente da Prevent Senior, Fernando Parrillo, viveu o inferno nas últimas semanas. A operadora de saúde fundada por ele há 24 anos tornou-se alvo de uma série de denúncias levadas à CPI da Covid no Congresso. As acusações vão de pressão para que médicos receitassem remédios considerados ineficazes contra a doença até recusa de tratamento para evitar aumento dos gastos com pacientes.
Agora, porém, o empresário se diz confortado. Com o encerramento da CPI, ele, seu irmão e sócio Eduardo Parrillo, e médicos da Prevent Senior foram indiciados e devem ser investigados pelo Ministério Público. “Vamos ter a oportunidade de nos defender no meio que é para isso, que não é o meio político, é o judiciário”, disse em entrevista exclusiva à EXAME.
Parrillo é enfático na defesa da conduta da empresa durante a pandemia. “Quando você está naquele clima, naquele momento, naquela pressão, com a intenção de acertar, você não pode falar que errou na decisão. Talvez se fizéssemos diferente nós não estaríamos aqui hoje (…). Então não me arrependo de nada do que fizemos. Na questão médica, de assistência, de olhar para o paciente como ele merece, principalmente o idoso, nós acertamos”, disse.
O empresário comentou as denúncias que surgiram na CPI e falou sobre o futuro da empresa. Segundo ele, a companhia se mantém financeiramente sólida, está preparada para futuras epidemias e não vai fechar as portas. A operadora faturou 4,3 bilhões de reais em 2020, e espera fechar 2021 com receita de 5,8 bilhões de reais. “A Prevent Senior vai vir muito mais forte”, disse.
Leia a entrevista a seguir:
Como foram as últimas semanas na Prevent Senior. Como receberam as denúncias e como se organizaram para gerir essa crise?
Foi muito difícil para todos nós. Graças a Deus a gente montou uma equipe super competente, porque a Prevent Senior nunca atuou numa crise institucional como essa. Obviamente que não está sendo fácil, porque é uma questão emocional também. Mas eu acho que no final das contas tem sido benéfico, porque vamos ter a oportunidade de nos defender no meio que é para isso, que não é o meio político, é o judiciário.
Estou muito confiante que daqui para frente as coisas vão ser esclarecidas. Apesar de termos sido acusados sem poder nos defender, de termos sido indiciados sem poder nos defender. Isso é muito ruim para a democracia do país.
No dia 26/10 houve a votação do relatório da CPI da Covid. E você, seu irmão e vários médicos da Prevent foram indiciados. Como se sente?
Acho que é um sentimento de conforto. Porque vamos poder nos pronunciar. Queremos que seja investigado, para não ficar em narrativas. Confiamos muito nesse fórum, a promotoria é o melhor lugar para isso, é uma investigação técnica, não política. Pelo menos vamos ser escutados.
E teve o TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), que foi muito bom para a empresa. Ele diz que não podemos distribuir a hidroxicloroquina aos beneficiários, isso nós já não fazíamos desde março de 2021. Mas foi muito bom porque foi uma boa fé da empresa junto com o Ministério Público de já eliminar alguns questionamentos em relação a isso.
A empresa é alvo de uma série de denúncias. Uma delas é a de pressionar médicos a dar aos pacientes com coronavírus o chamado “kit covid”, com medicamentos considerados ineficazes no combate à doença. Afinal, qual era a orientação geral da Prevent Senior em relação a esses medicamentos?
A Prevent Senior sempre preservou a autonomia médica. O que existiu foi um protocolo de orientação, caso o médico quisesse prescrever. O protocolo não significa uma obrigação de fazer. Existem protocolos aqui de todas as especialidades, é uma orientação ao médico, nunca houve pressão. Estamos falando de três médicos [que denunciaram], que tinham processos trabalhistas, processos no compliance, então isso foi uma retaliação por processos que já estavam correndo.
Como o ganho de escala e os processos de uma empresa como a Prevent convivem com a liberdade do médico? Como isso se dava na prática?
Em toda empresa existem protocolos médicos. Quando o médico entra, ele fica sabendo quais são os medicamentos que estão à disposição dele para o tratamento, isso em todas as áreas, em todos os hospitais. No caso da covid, fizemos isso. Acreditávamos na época que o medicamento era benéfico, era tudo muito novo, era o que se tinha à disposição para tentar conter a crise. E foi proposto: caso o médico queira usar, existe esse protocolo. Mas muitos não prescreveram e nem foram mandados embora porque não prescreveram. A empresa é verticalizada em processos, não é verticalizada em opiniões, não é uma questão de custos. Imagina você ter 3.000 médicos, mais os externos, e obrigar todos a terem uma conduta? Não é assim.
Vocês pararam de distribuir o kit covid em março de 2021?
Nós paramos de distribuir para os beneficiários. Um dos pilares da pandemia foi o isolamento dos nossos beneficiários, porque era o grupo de risco. Então nós enviávamos para ele não ter que ir à farmácia. Mas distribuímos outros medicamentos, que eram de uso contínuo deles também, não foi só o kit covid. No TAC a empresa foi obrigada a não distribuir, e a gente não distribui. Eles podem ir à farmácia caso queiram comprar seus medicamentos.
E pode continuar receitando?
Aí entra a autonomia médica. Ninguém pode ir contra a autonomia médica. É o médico receitar, não uma empresa receitar. Não existe um controle do que o médico está prescrevendo.
A indicação desses remédios foi bem difundida principalmente no início da pandemia, quando havia pouca informação confiável. Naquele momento a empresa tomou medidas por desconhecimento da situação? Essas eram práticas só da Prevent ou de todo o mercado?
Toda empresa séria e todo médico sério pôs à disposição o que existia no momento para tentar salvar as pessoas. Nenhum médico e nenhuma empresa de saúde quer o contrário, eles querem preservar a saúde do paciente. Nós somos pagos para isso, é uma empresa privada, que tem obrigação de fazer o máximo para salvar seus beneficiários. E fizemos isso com as ferramentas que existiam na época.
Outro ponto polêmico é um estudo divulgado pela Prevent em abril de 2020. Houve erros na divulgação desse estudo?
Aquilo foi um estudo observacional. Foi feita uma observação dos pacientes, e nós achamos naquele momento que muitas pessoas poderiam se beneficiar dessa observação. E se o médico julgasse que aquela observação fosse válida, tomaria as providências de receitar, ou não.
Não queríamos fazer um estudo experimental de medicamento, longe disso, não tínhamos nem cabeça para fazer isso. O que tínhamos era: observamos que melhorou, isso pode servir para outras pessoas. E muitos médicos utilizaram. O único problema de tudo o que aconteceu em relação a esse kit foi a politização. Se não tivesse havido a politização, nós poderíamos estar em outro rumo em relação a isso. Não estou falando que existe comprovação sobre isso, existem muitos estudos que dizem que não, e esses são estudos sérios. Mas na época era o que se tinha. Temos que lembrar que aquela época foi desespero total. O que se faz com uma doença que ninguém conhece? A gente tem que botar tudo isso em contexto.
Outra denúncia é a de que a empresa adulterava as declarações de óbito de pessoas que morreram após serem internadas com covid. Surgiram casos em que o paciente foi internado com covid, mas a doença não aparece na declaração de óbito. O que aconteceu nesses casos?
Quando o paciente entra com covid, você é obrigado a colocar lá covid, é o diagnóstico certo. Esse CID [classificação internacional de doenças] nunca muda. O que acontecia é que, depois de um tempo que o paciente já não está infectando as pessoas, a gente podia locomover ele de leito.
O diretor jurídico da Prevent Senior, Gilberto Menin, complementa: Quando o paciente entra com covid, isso é notificado para o poder público, era o CID inicial, que nunca mudava. Só que quando o PCR vinha negativo, entrava outro CID, para o paciente sair do isolamento. Era um sistema de gestão de leitos. E eles misturaram tudo. Quando você notifica o poder público, isso já foi contabilizado. O que configuraria crime seria não notificar para falar que morreu menos gente lá, mas todos foram notificados. Para que haja uma fraude, tem que ter a figura do dolo, tem que ter uma vantagem.
Mas e a declaração de óbito?
A gente tem que entender qual seria a intenção da empresa de não dar o covid. Nenhuma. Erros podem ter acontecido, erros de preenchimento, numa pandemia, os médicos trabalhando 24 horas, podem ter acontecido em alguns casos, mas isso não foi alterado. Se fosse, não apareceriam três casos, a gente teve mais de 4.100 mortos.
A advogada dos médicos, Bruna Morato, foi à CPI e disse que mesmo que os médicos quisessem insistir na recuperação de um paciente, o plano poderia vetar o tratamento e indicar o chamado tratamento paliativo. Isso tudo com foco na redução de custos e liberação de leitos de UTI. O que diz sobre essas denúncias?
Nem tem o que responder, é um absurdo. Ninguém sabe de onde veio essa advogada, ela tentou fazer uma extorsão na empresa, um acordo que não foi concluído, e manda para a CPI um dossiê onde ela própria é testemunha, a maior aberração jurídica do país, uma testemunha terceirizada, o que ela fala eu nem escuto mais.
Mas esse tema tem levantado discussões sobre o modelo de planos de saúde verticalizados. Há quem defenda que esse modelo leva a um conflito de interesses, e favorece a redução de custos em detrimento do bem-estar do paciente. Isso é um risco mesmo? Faz sentido repensar esse modelo?
Existem várias operadoras nesse modelo, existem várias outras cooperativas com o mesmo modelo. É o que para em pé no sistema privado, são as que conseguem fazer o sistema funcionar. Se você sair desse modelo vai pagar muito mais num plano. Tem que ver com os beneficiários se eles estão contentes e felizes com o modelo. E pelo que venho percebendo eles estão muito contentes. Os modelos de saúde suplementar sempre têm que estar se inovando, sempre têm que se aprimorar, mesmo porque o mundo evolui. Acho que o debate tem que ser feito, mas não no ambiente político.
Passado pouco mais de um mês da primeira denúncia, onde avalia que a empresa errou?
Acho que não erramos em nenhuma decisão. Quando você está naquele clima, naquele momento, naquela pressão, com a intenção de acertar, você não pode falar que errou na decisão. Talvez se fizéssemos diferente nós não estaríamos aqui hoje. A expectativa do início da pandemia para a Prevent Senior era que a empresa poderia acabar. As notícias que chegavam eram de que os idosos eram os mais atingidos, e eu tinha 500 mil idosos. Qual era a probabilidade de 10, 15, 20% dos meus idosos falecerem dentro da Prevent Senior? Qual estrutura eu teria que ter para atender? Foi um desespero total. Então não me arrependo de nada do que fizemos. Na questão médica, de assistência, de olhar para o paciente como ele merece, principalmente o idoso, nós acertamos.
E na parte institucional?
Sempre falo para todo mundo aqui: foco no que a gente controla. Não tínhamos como controlar isso, não tínhamos como controlar uma denúncia anônima, um dossiê mal feito, isso é a parte que a gente não controla. Não sei de onde veio tudo isso, como começou e por que começou. Então não saberia avaliar, se tivesse tomado lá atrás uma decisão diferente, a crise institucional que a Prevent Senior está passando não teria acontecido? No que pudemos controlar, a gente fez o melhor. Se decidiu certo ou errado a história vai contar.
Qual o principal aprendizado que esse processo trouxe para a empresa e para você pessoalmente?
Para mim foi mais que um doutorado. O maior aprendizado foi que temos que ter uma infraestrutura adequada para qualquer tipo de crise. E isso nós fizemos. Todos os nossos lugares estão aptos para receber leitos, até lugares de ambulatório. Toda nossa infraestrutura daqui para frente está preparada para uma pandemia. Nós temos 200 respiradores em estoque, que vão ficar lá, se precisar. E graças a Deus a Prevent Senior tinha infraestrutura, desde helicóptero, que foi buscar muitas pessoas com covid, aviões, infraestrutura nos hospitais, tínhamos um prédio para fazer um hospital de campanha. Ninguém sobrevive a uma pandemia se não tiver infraestrutura.
Que mudanças a empresa está promovendo internamente após as denúncias para evitar que essa situação se repita?
Eu não posso mudar a estratégia de uma empresa inteira por causa de denúncias anônimas, sendo que conhecemos três pessoas da denúncia e eu tenho 12 mil funcionários, 3 mil médicos. Isso para mim não representa nada. Vamos seguir cuidando dos nossos beneficiários, como sempre fizemos, com melhorias.
Houve redução na quantidade de beneficiários após as denúncias?
Não. Mês passado vendemos 7 mil contratos, no meio de uma crise dessas. Eu fico muito feliz, porque estão atestando que confiam no que a gente está fazendo.
Vocês estavam expandindo para outras cidades, tinham planos de investimento ambiciosos. Mudou algo?
Não. Foram investidos mais de 350 milhões de reais em hospitais esse ano. A empresa não pode parar.
O modelo de negócios da Prevent Senior, com foco em idosos, operação verticalizada e medicina preventiva está ameaçado? Vão fazer algum ajuste de rota?
Jamais. Somos a quarta operadora de saúde do país. Esse é um modelo que venceu. A gente conseguiu dar medicina de qualidade para as pessoas a um preço adequado, a gente conseguiu provar que a medicina não é cara, as pessoas podem ter acesso, não pode ser um artigo de luxo. Temos a nossa função como empresa de saúde suplementar. A saúde suplementar tem que existir, senão aonde iriam os nossos 550 mil idosos? Quem tem capacidade de absorver? É uma irresponsabilidade sem fim pegar uma empresa que tem uma função social gigantesca e colocar no meio de uma divisão política.
Como vê o futuro da Prevent Senior?
A Prevent está bem mais forte, tudo isso só nos fortaleceu, só nos deixou mais agrupados. Trouxemos pessoas novas, as pessoas estão com muito mais vontade de trabalhar, muito mais vontade de criar, muito mais vontade de mostrar seu trabalho. Acho que a Prevent Senior vai vir muito mais forte.
Um temor dos beneficiários é que a empresa feche as portas. Existe essa possibilidade?
Jamais. É uma empresa totalmente estruturada, e parece que tudo o que fizemos esses anos todos era para nos preparar para esse ano de pandemia. Em termos de estruturação de infraestrutura, as coisas que tínhamos à disposição, e um caixa muito forte. A gente nunca deixou de ser conservador na questão financeira e estrutural. Mesmo nesse ano, com deflação nos planos, mesmo assim a gente ainda está positivo no ano. Ela continua estruturada, e quando isso passar a gente vai estar com força e garra para trabalhar.
Tem planos de vender a empresa?
Jamais, esse é o nosso projeto de vida, a família não pensa nisso.
E abrir capital?
Também não, a empresa tem uma flexibilidade muito grande, de decisão, de atuação, e jamais a gente conseguiria fazer isso num outro sistema.
Nas últimas semanas comentou-se que a Prevent funciona bem na parte preventiva, mas quando o paciente precisa de uma intervenção mais complexa ela não tem isso para oferecer, ou acaba negando que o paciente vá para outro hospital por uma questão de custos. Como é isso?
Nesse momento de pandemia surgiram vários especialistas… Se a empresa não tivesse como fazer, ela não chegaria até aqui. Temos procedimentos a laser, cirurgia pela radial, cirurgia robótica, a gente nunca fez propaganda sobre isso. Jamais um paciente ficou sem atendimento. Ninguém consegue ter 550 mil pessoas aqui dentro, vendendo boca a boca, sem propaganda em televisão, não oferecendo nada. As pessoas são tratadas adequadamente. Mas o mundo virou especialista… Vem fazer visita no paciente, vem ficar uma hora e meia conversando com um idosos que está em depressão, isso não é alta complexidade para eles. As pessoas não sabem nem um décimo do que se faz aqui dentro. Meu corpo clínico é o melhor do Brasil.
Está indignado?
As pessoas que trabalham aqui não merecem [o que aconteceu]. A gente gosta do que faz, e é muito dolorido para nós. São pessoas que dobraram turnos, nós dormíamos duas, três horas por dia, e vem alguém querer nos colocar numa briga política. Não entendem nada do que a gente faz, isso é muito triste.
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A notícia Fernando Parrillo, da Prevent Senior: “Não erramos em nenhuma decisão” apareceu em Meio e Negócio.
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