Geada extrema: saiba quais serão os impactos na produção de alimentos que vão para a sua mesa – Forbes Brasil
A imagem acima é de Campo Alegre, município catarinense a 240 quilômetros da capital Florianópolis, quase na divisa com o estado do Paraná. Tem 12 mil habitantes e é chamada de Paraíso da Serra, por estar na região do planalto, e também de Capital Catarinense da Ovelha, por causa das muitas cabanhas especializadas na criação de raças como suffolk, humpshire, texel, dorper e ille de france. Na madrugada de hoje (28), os termômetros marcavam um grau negativo trazendo uma geada cortante, mas na madrugada de amanhã a temperatura pode chegar a três negativos. Em outros pontos, a expectativa é que possa haver temperaturas até abaixo de 10 graus negativos.
A onda de frio polar que avança pelo Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e até o Rio de Janeiro, deve provocar temperaturas ainda mais baixas, afetar cadeias de produção de alimentos que chegam à mesa do consumidor e que tem um peso gigante na balança comercial brasileira. A principal é o café, além da cana-de-açúcar, milho e trigo. Apenas as exportações das três primeiras commodities responderam por US$ 21,3 bilhões em 2020, do total embarcado de US$ 100,81 bilhões, segundo maior valor da série histórica, atrás somente de 2018, de acordo com o Ministério da Agricultura.
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No caso do trigo, cultura na qual o Brasil não é autossuficiente, os gastos com importações foram de US$ 1,3 bilhão no ano passado. As geadas podem atingir também as pastagens e as hortaliças, principalmente nos cinturões verdes das grandes cidades. “A cabeça do produtor já estava na próxima safra e desde a semana passada existe um temor do frio”, diz João Rodrigo de Castro, especialista em agribusiness, análise de risco e mercado climático da Climatempo. Ele conta que ontem já havia registro de chuvas geladas e discussão entre os meteorologistas da empresa se o evento foi de neve ou uma precipitação invernal, que tecnicamente são distintos. Mas, para amanhã parece não haver dúvida: o ar polar vai castigar boa parte do país e as consequências serão contabilizadas mais adiante e até na safra do ano que vem.
É comum invernos mais rigorosos, outros menos. A frente fria polar desses dias, com temperaturas extremas, é muito muito parecida com o que aconteceu em 2013. Mas, de acordo com Castro, o atípico neste ano é que está se confirmando duas massas de ar polar muito intensas e próximas. Vale registrar que no dia 20 de julho já foram registradas temperaturas abaixo de 10 graus negativos no país. “Tivemos um frio bastante rigoroso que prejudicou várias áreas”, diz Castro. “Nesta quinta-feira ele ocorrerá novamente, cobrindo boa parte do centro-sul do país. Em lugares mais altos de Minas Gerais e São Paulo, as temperaturas podem ficar próximas de zero ou negativas. Campo Grande (MS), por exemplo, está fora das negativas, mas a temperatura vai despencar. Não descartamos cinco ou seis graus de previsão, mas pode cair ainda mais e com geadas.” No Sul, a sensação térmica pode atingir -25ºC e até nevar.
Os produtores enfrentaram uma geada história em 1975, chamada de geada negra, quando as temperaturas caem e os ventos ficam acima de 20 a 30 quilômetros por hora. Essa geada derrubou a cafeicultura da época, concentrada no Paraná. “Não estamos esperando ventos extremos, que é um dos ingredientes dessa receita de bolo da geada negra. Mas o frio vai ser intenso e estamos estimando ventos da ordem de 5 a 10 quilômetros por hora”, diz Castro. Douglas Duek, CEO da Quist Investimentos, que atua no setor de agronegócios, afirma que o impacto econômico, no caso do café, pode ser sentido no mercado internacional, já que o Brasil é o maior exportador do grão. “O que acontece é que, caso ocorra queda na produção, o mercado pode ameaçar um aumento nos preços.” Desde o início da semana, a Bolsa de Nova York tem mostrado um volatilidade alta que deve perdurar, ainda sem data para alguma calmaria.
Confira abaixo o que pode ocorrer com as principais culturas:
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