Por que o zinco virou o elemento da vez
Tempos atrás, quando se falava em vitaminas e minerais, pensava-se imediatamente em suplementação infantil. Essa percepção nos dias atuais mudou e as evidências científicas mostraram que os suplementos, quando bem indicados, não são um assunto apenas para crianças em desenvolvimento.
Quem consegue garantir, com total e absoluta certeza, uma vida com sono regular todos os dias, sem estresse, preocupações e episódios de ansiedade, com refeições balanceadas e altamente ricas em vitaminas e minerais (feitas em horários corretos e sem pressa), com atividades físicas regulares e ao menos 15 minutos de banhos de sol? A verdade é que, com a correria da vida urbana, a maioria da população mundial não tem conseguido unir todos os elementos necessários para uma vida totalmente saudável e, como já se sabe, isso faz total diferença nas deficiências do organismo.
Com o aparecimento da Covid-19, as pessoas entenderam, mais do que nunca, a importância de adotar alguns hábitos mais regrados, visto que alguns fatores de risco associados ao estilo de vida facilitam quadros graves da doença. Obesidade, diabetes, problemas cardiovasculares, pulmonares e renais são apenas alguns deles. Assim, a busca por fortalecer o sistema imunológico cresceu significativamente.
É nesse cenário que se passou a falar mais do zinco, a ponto de ele virar o elemento da vez. E, sim, esse é um dos minerais mais necessários para o organismo. A procura por suplementos com zinco e outras substâncias bem-vindas se expandiu com a pandemia. Segundo levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos Para Fins Especiais e Congêneres (Abiad) houve um aumento de 48% na ingestão de multivitamínicos e afins nos lares de diversas cidades brasileiras.
O mesmo estudo, realizado em maio de 2020, revelou que 63% das pessoas entrevistadas justificaram o consumo para melhorar a imunidade. Posteriormente, uma análise mais específica mostrou que 70% daquelas que aumentaram a ingestão desses produtos desejam manter o hábito após a pandemia.
O zinco participa de mais de cem reações enzimáticas do organismo, estando envolvido em processos fisiológicos do crescimento e do desenvolvimento, na capacidade cognitiva e principalmente no combate aos radicais livres, moléculas que se formam naturalmente e que, com o tempo, podem prejudicar órgãos e tecidos. Os radicais livres estão por trás do estresse oxidativo, um estado que, se não for equilibrado pela presença de antioxidantes (caso do zinco), está associado a mais de 200 doenças diferentes.
Sabemos que pessoas com diabetes, por exemplo, podem apresentar um grau aumentado de estresse oxidativo, o que reforçaria a necessidade de garantir uma proteção antioxidante com a alimentação e, se for o caso, a suplementação, incluindo o zinco e outros micronutrientes.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a deficiência de zinco no corpo humano acomete um terço da população pelo planeta e provoca falta de apetite, enfraquecimento de unhas e cabelos, dificuldade de cicatrização, baixa imunidade e maior propensão a infecções. O mineral atua como um mediador para manter a resposta imune em dia contra micro-organismos.
Por não ser produzido pelo próprio corpo, precisamos obtê-lo pela alimentação e, se o profissional de saúde julgar adequado, complementar via suplementação. O zinco pode ser encontrado em fontes animais e vegetais, tais como amendoim, amêndoa, camarão, carne vermelha, castanhas, chocolate amargo, feijão, grão-de-bico, ostras, sementes de abóbora, noz-pecã, ovos, cogumelo shitake, gergelim, lentilha, entre outros.
A recomendação de ingestão diária varia de acordo com a fase da vida, mas, em termos gerais, o nível de zinco no sangue deve ficar entre 70 a 130 mcg/dL. No entanto, para quem possui determinadas restrições alimentares ou não consegue manter uma dieta rica em zinco, o ideal é recorrer a suplementos existentes no mercado, que entreguem dosagens de 30 mg de zinco.
Vale lembrar que, embora o zinco seja fundamental para a defesa imunológica, não existem evidências científicas que comprovem uma proteção direta contra o coronavírus. Sua reposição deve ser feita com avaliação e prescrição médica, após exames específicos e podendo ser ajustada com o profissional de acordo com as necessidades do paciente.
* Luís Carlos Sakamoto é médico-assistente do Centro de Referência da Saúde da Mulher – Hospital Pérola Byington, em São Paulo, membro da Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção da FEBRASGO e professor de ginecologia da Faculdade de Medicina do Centro Universitário das Américas
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